Desde 2001 a ECOCASA Tecnologias Ambientais definiu a tecnologia da Alemã 3P Technik para fornecimento de filtros e componentes para aproveitamento de água da chuva para o mercado brasileiro, tendo em vista a necessidade de soluções tecnológicas robustas e flexíveis que se adaptassem ao mercado nacional. Desde então milhares de filtros e sistemas completos foram vendidos e instalados comprovando  qualidade empregada no desenvolvimento e fabricação dos produtos com a tecnologia 3P Technik.

Recentemente a empresa recebeu o prêmio Top-Innovator com o lançamento do SANI SOLAR – Uma nova tecnologia para  saneamento básico em áreas remotas. O Sistema de saneamento seco transforma já no local os dejetos humanos em compostos para fertilização, diminuindo drasticamente os riscos de infecções e diversos outros problemas causados pela ausência do tratamento de esgoto doméstico.

Quem fala para o Blog da ECOCASA sobre o futuro dessa e de outras tecnologias no Brasil é Jack M. Sickermann, Assessor de Projetos da 3P Technik do Brasil.

ECO: A 3P Technik recebeu a segunda colocação no prêmio Top-Innovator 2016 dentre 100 empresas do mesmo porte – A que vocês atribuem esta conquista?

Jack:  Não é a primeira premiação, antes a 3P recebeu um prêmio para o seu HydroSystem, que limpa a água de chuva proveniente de ruas e estradas.Vejo o êxito principalmente na filosofia que nós vivemos sob a liderança do CEO Jorge Torras, de não bolar um produto e depois ver como comercializá-lo, mas de escolher problemas para os quais nós com a experiência e capacidade técnica acumulada, e sem abrir mão das capacidades de terceiros, podemos desenvolver soluções realmente inovadoras.

ECO: Quais são as inovações propostas pelo SANI SOLAR?

Jack: O SANI SOLAR também e fruto desta nossa visão. Um parceiro nosso estava fornecendo cisternas para o Nordeste na seca, e vimos que a qualidade da chuva estocada precisava de um sistema simples de filtragem, afinal esta água tem que durar quase 10 meses. Vendo a situação do povo no NE observou-se a grande precariedade do saneamento, sobretudo das instalações sanitárias das famílias e escolas. Improvisa-se “moitas” para as pessoas fazerem suas necessidades, situação muito constrangedora sobretudo para as mulheres e moças. Sem falar dos óbvios riscos de contaminação e proliferação de doenças.

Era urgente uma solução que permitisse ao mesmo tempo um ambiente decente e reservado, o funcionamento sem água e dispensando um sistema de manutenção e descarte dos resíduos. É assim que se trabalha na 3P, criar soluções sob medida para as particularidades de cada casoc.

ECO: Explique resumidamente o funcionamento do sistema.

Jack: Temos uma cabina, com um vaso sanitário, onde no ato se faz a separação entre a urina e as fezes. A urina é conduzida para um recipiente de chapa com tampa de vidro, onde os raios solares a ressecam rapidamente. O resultados é um pó fertilizante, que pode ser usado na horta.

Abaixo do vaso existe um “carrossel” com 4 potes, que recebem as fezes. Após cada uso, se aciona uma alavanca, que gira o pote usado por último para a frente de uma janela, que com um vidro-lente seca o material com ajuda dos raios solares. A rápida redução da massa do material dispensa a retirada frequente.

ECO: O sistema requer alguma manutenção?

Jack: Vamos lembrar como funcionam fossas sépticas e de compostagem: a primeira requer um caminhão que venha a esvaziar a fossa e leve o material para descarte, o que não raramente acaba em riscos de contaminação quando o chorume infiltra-se no solo. Mas mesmo sendo feito corretamente, implica em custos consideráveis, que muitas famílias não tem como pagar.

Na fossa de compostagem, revirar o material, mistura-lo com outros para obter um composto útil, dá trabalho e demora.

No SANI SOLAR, estes processos são muito acelerados, e a rápida redução da massa em até 90% permite que o próprio usuário enterre um vez por mês o material restante, que já não irá conter patogênicos.

ECO: Quais países estão aptos a receber o sistema?

Jack: O sistema funciona em todo lugar onde há uma insolação adequada, no site tem um mapa indicativo. Além da questão do sol, o SANI SOLAR vai ser especialmente bem-vindo onde há condições sociais mais baixas e escassez de água e/ou de sistemas sanitários comuns.

ECO: Já existe algum teste ou futuras propostas para trazer o produto ao Brasil?

Jack: O produto foi originalmente concebido para o Brasil, já foi testado na Bahia sob condições reais e aprovado. É o contrário, o SANI SOLAR recebeu muita atenção na recente Conferência Mundial das Toaletes em Singapura. Certamente haverá experiências na África e na Índia, que tem um programa governamental para prover todas as casas com um banheiro.

ECO: Além do SANI SOLAR a 3P já vislumbra outras tecnologias na área de Saneamento?

Jack: A 3P e seus parceiros já tem soluções prontas para estradas, boca-de-lobos e sarjetas filtrantes, além do HydroSystem para postos de gasolina, telhados metálicos etc., porque há a consciência que a questão chuva já passou há tempo do aproveitamento de um pouco para descarga e jardim.

ECO: Há alguma consideração importante a ser feita acerca das perguntas acima aos nossos leitores?

Jack: Sim: primeiro que se entenda que a chuva não há de ser um problema, o problema geralmente é a forma não muito eficaz como lidamos com ela. Manejar com inteligência, não querer construir onde os cursos de água sempre passaram, não estrangular rios, compensar a impermeabilização do solo por construções e ruas com Telhados Verdes, pisos drenastes, mais árvores e cisternas.

Segundo: o clima está mudando, já não importa por que razão, sempre mudou mas agora numa velocidade muito maior. Então precisamos precaver-nos de várias maneiras, como preparar barreiras para que na enchente a água não chegue p. ex. no poço do elevador nos prédios. Nas enchentes recentes, muitas vezes o fornecimento de água da rua ficou interrompido, um estoque de água potável pode ser uma boa, e ter mesmo nestes momentos água para a descarga e para lavar a roupa pode fazer um baita diferença.

Quem acompanhou ou até foi atingido pela secura em São Paulo tempos atrás viu o desespero dos moradores, até disputando a água fetida de um córrego com jacarés. A chuva vem de graça nos nossos telhados e o que se guarda não carreia lixo e terra para os rios.

E finalmente, sem a chuva os solos não se saturam e não tem água para dar para os rios na estiagem. Precisamos dos “rios voadores” que trazem a humidade da Amazônia para as nossas cidades e reservatórios. E isso funciona enquanto tiver árvores lá. Não deixemos o desmatamento secar as nossas torneiras.